quarta-feira, outubro 04, 2006

Preço alto dos DVDs: a culpa não é da pirataria

Outro dia publiquei esta postagem sobre o McDonnalds e o documentário Super Size Me – A Dieta do Palhaço, do diretor e auto-cobaia-humana Morgan Spurlok. Hoje, vamos discutir outro tópico do panfleto do mês passado da rede de comida rápida. Só pra lembrar, o McDonnalds propunha, em suas bandejas, algumas atitudes para salvar o mundo fazendo coisas simples. Uma delas é esta:


Reforço que escaneei pela minha webcam, daí a pouca qualidade da imagem. A recomendação é a seguinte: não compre produtos pirateados. Eles são ilegais, e sua produção conta com trabalho infantil e subemprego. Sem querer, a lanchonete me deu uma boa oportunidade pra discutir um assunto que há muito venho querendo falar: a pirataria - no caso, de CDs e DVDs.

A mídia divulga há muito tempo que os Estados Unidos estão insatisfeitos com a ineficiência do combate à pirataria na América Latina e, sobretudo, no Brasil. A princípio, a reclamação parece justa, pois a coisa mais fácil do mundo é comprar um CD ou DVD genérico em camelôs das grandes cidades. Logo, se tem alguém pirateando, com certeza tem alguém perdendo. No caso, quem? Vejamos.

A tropa de choque do combate à pirataria de CDs e DVDs é composta por seis gravadoras que comandam o mercado brasileiro. Nenhuma delas é nacional. São essas gravadoras que escolhem quais gêneros musicais ou bandas irão fazer sucesso no Brasil. Escolhem a dedo e utilizam da pior forma de divulgação possível para emplacar novos sucessos: o jabá.

Para os mais desavisados, o jabá é uma quantia em dinheiro, expressa na prestação de contas das gravadoras como verba de divulgação, destinada a rádios e emissoras de televisão. As gravadoras pagam em dinheiro vivo para que as músicas de trabalho de suas bandas sejam bombardeadas incessantemente. Como resultado dessa lavagem cerebral, o público acaba aceitando os hits escolhidos pelos donos do dinheiro. A impressão que nos fica é de que o sucesso é espontâneo e não programado.

Pois bem, após escolherem os sucessos e pagarem centenas de rádios pelo Brasil (algumas redes chegam a cobrar R$ 20 mil reais pela divulgação), as gravadoras lançam os CDs ou DVDs e nos empurram preços acima de R$ 30. E usam o argumento de que a pirataria é a responsável pelo preço alto.

Argumento que, aliás, é falso. Fosse ele verdade, não faria sentido as mesmas gravadoras adotarem outra estratégia no paraíso da pirataria, a China. É no Oriente que são produzidos a maioria dos produtos pirateados e, para combater a falsificação por lá, as empresas resolveram adotar uma estratégia diferente: baixaram o preço dos DVDs. Tanto é que o DVD do último filme do Super-Homem, a ser lançado pela Warner, chega à China custando apenas R$ 3,40.

Nessa hora sinto pena de nós, latino-americanos. Os chineses podem pagar barato. Nós, não. E o pior é o argumento de que a pirataria é a causa do preço alto. Será mesmo?

Pílula 1 Em outro post, irei propôr alternativas para fugir do jabá. Bandas e ouvintes podem usar a internet para o bem.

Pílula 2 Se tudo der certo, em breve estarei produzindo, junto com uma banda de música pop do interior de Minas, um videoclipe e um material de divulgação. Prentendemos embarcar pela linha alternativa, sem jabá, sem gravadora, sem nem lançar CD. Torçam para que dê certo. Mais notícias em breve.