sexta-feira, outubro 06, 2006

O que se passa na cabeça do povo

Passei estes últimos dias freqüentando debates que rolam nas seções de comentários de blogs e comunidades relacionadas à eleição pra presidente. Percebi uma clara tendência de eleitores dos dois lados em considerar que o povão (no caso, os mais pobres) está com Lula, enquanto a classe média alta e os ricos estão com Alckmin. Para muitos, a explicação está no fato de o Bolsa Família ser esmola, assistencialismo, compra de votos ou coisas que o valham.

Todos vocês, provavelmente, também já ouviram ou leram coisa do tipo. Este tipo de visão esbarra no preconceito que ronda a classe média, de que os pobres só querem saber de ter comida na mesa sem trabalhar. Esbarra no preconceito pregado por jornais como o Estado de S. Paulo, que em outra oportunidade disse que os pobres ligam menos para a corrupção do que os ricos.

Porém, de todas as fontes das quais obtive esse tipo de ponto de vista, nenhuma me pareceu ter argumentos sérios para comprová-lo. Este tipo de discurso se baseia apenas em suposições. Afinal de contas, ninguém pode ter certeza de que conhece as vontades do povo sem no mínimo ouvir o que ele tem a dizer.

É com base nisso que pretendo começar neste blog, a partir de hoje, uma pequena série de postagens intitulada Clássicos do Cinema Brasileiro. O que tem a ver uma coisa com a outra? Tem a ver que começarei a série relatando momentos do que foi talvez o principal e mais genial movimento do nosso cinema: o Cinema Novo, iniciado no final da década de 50 e mantido pelas duas décadas seguintes.

Dentre as premissas dos cineastas que participaram deste movimento, uma delas era a de retratar o povo brasileiro. Mas não aquele povo refeito em estúdios de gravação, e sim o povo cercado pela realidade de seu cotidiano. Desta forma, mostrou a distância entre os sonhos e a vida dos brasileiros, em tom de crítica e contestação. Ou seja, mostrava aquilo que até hoje nós, da classe média, temos dificuldade em compreender.

Os três primeiros filmes serão Vidas Secas, de Nélson Pereira dos Santos; Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias; e Iracema – Uma Transa Amazônica, de Jorge Bodansky. São retratos da população carente do sertão nordestino, das favelas cariocas e da Amazônia, respectivamente. Três lugares distintos retratados. Em todos, porém, com sintomas semelhantes provocados pela miséria. Foram filmados há mais de 40 anos, mas permanecem atuais. Em breve, a primeira postagem da série. Espero que gostem.

2 Comments:

At 3:49 PM, Anonymous Anônimo said...

Paulo, não sei se ajuda, mas vamos lá...

Eu fui mesário (novamente) esse ano, e onde eu "trabalho", os eleitores são, em sua grande maioria, de baixa renda, ou seja, pelo que dizem, eles votariam no nosso presidente. No entanto o que aconteceu foi diferente.

Na minha seção, o cadidato Geraldo, foi o vencedor com 172 votos contra 146 do candidato Lula. Total de votos foram 395 nominais, 13 brancos e 29 votos nulos.

Portanto, acho que falarem que o "povão" vota no Lula está completamente errado. Pra mim, isso é desculpa da elite que vota nele, pra se sentir menos culpada.

Bom, é só um pensamento.

Abraços

 
At 10:37 AM, Blogger Paulo Morais said...

Fábio, não sei se podemos reduzir a discussão a apenas uma seção eleitoral - também não sei de qual estado você é. Creio que, no geral, os números mostram realmente que há uma polarização dos votos, e que as classes mais baixas estão mesmo com Lula.

 

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